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Uma a cada duas pessoas sofre com problemas de saneamento no Brasil

Os dados são de um estudo que será divulgado nesta quinta-feira (16), feito com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.

Thiago Betônico/Folhapress

Publicado em 16/11/2023 às 11:47

Atualizado em 16/11/2023 às 11:47

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O resultado é um raio-X de onde estão e quem são as famílias brasileiras que sofrem com saneamento básico no país. / Divulgaçao

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Mais de 102 milhões de brasileiros vivem diariamente com algum tipo de privação de saneamento no Brasil.

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Isso significa que uma a cada duas pessoas mora em uma residência sem o a serviços considerados básicos, como abastecimento de água, coleta de esgoto ou, simplesmente, um banheiro.

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Os dados são de um estudo que será divulgado nesta quinta-feira (16), feito com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.

O trabalho —produzido pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a consultoria Ex Ante e com o Cebds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável)— avaliou cinco tipos de problemas: falta de conexão à rede geral de água; abastecimento irregular de água tratada; ausência de caixa d'água ou reservatório; falta de banheiro em casa; e falta de coleta de esgoto.

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O resultado é um raio-X de onde estão e quem são as famílias brasileiras que sofrem com saneamento básico no país.

Segundo os dados, uma casa com privação de saneamento é tipicamente uma residência em área rural, cidade do interior ou assentamentos precários de regiões metropolitanas. Pode ser vista com maior frequência nos estados do Norte e Nordeste. A parede é de material aproveitado, o telhado de palha ou madeira, e o piso de terra batida.

Nessa casa, em geral, vive uma família de três ou quatro pessoas. São pobres, negros e com baixa formação escolar.

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Em números absolutos, o Nordeste é a região do Brasil que mais sofre com a falta de serviços em todas as cinco dimensões analisadas. São 40,3 milhões de pessoas com alguma privação do tipo.

O problema que afeta mais brasileiros é a falta de coleta de esgoto. São quase 70 milhões de pessoas nessa situação.

O dado não é exatamente novidade. Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo publicada em agosto, metade do esgoto do Brasil é jogado na natureza sem ser tratado.

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Todos os dias, mais de 5.000 piscinas olímpicas cheias de rejeitos sanitários são despejadas nos rios e mares do país, contaminando praias, poluindo áreas urbanas e causando doenças na população.

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O que o estudo do Instituto Trata Brasil revela é que 42,7% das residências com privação de o à coleta de esgoto estão no Nordeste. No Piauí, por exemplo, 83% da população não está conectada a uma rede de coleta.

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No recorte nacional, 66% das pessoas que sofrem com o problema são negras —perfil que se repete em todas as privações analisadas no estudo (e na grande maioria dos problemas sociais do Brasil).

Dos 69,706 milhões de pessoas sem o aos serviços de coleta de esgoto, 27% estavam abaixo da linha de pobreza em 2022 (renda de até R$ 417,45 por mês). Além disso, do total de moradias nessa situação, 62,7% estão em áreas urbanas e 37,3% em áreas rurais

O raio-X ainda mostra que existem 4,4 milhões de brasileiros sem o a um banheiro em casa, dos quais 85% são negros. Também é no Nordeste onde o problema se agrava. Cerca de quatro a cada cem moradias da região não contam com um banheiro de uso exclusivo.

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Para Fernando Garcia de Freitas, pesquisador do Instituto Trata Brasil, a falta de banheiro individual é a privação que mais se relaciona com a questão da dignidade e da saúde humana.

O índice verificado no Brasil, diz, é considerado médio ou baixo na comparação mundial. Regiões da África e do sul da Ásia têm números piores. Contudo, segundo Freitas, alguns estados têm indicadores comparáveis às piores regiões do mundo.

"Esse é o problema de saneamento que tangencia de forma mais clara com a política habitacional", diz. "É uma solução que a gente não resolve sem programas de reforma", afirma.

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Outro problema que atinge quase um quarto dos brasileiros é o recebimento de água insuficiente; 23 a cada 100 casas não recebem água todos os dias.

Para Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, esse foi o achado que mais chamou a atenção.

"Ainda temos 17 milhões de moradias que não recebem água todo dia, isso é algo que preocupa muito. Estamos falando de mais de 50 milhões de pessoas", afirma.

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"Pernambuco, por exemplo, tem 65% da população com privação de fornecimento diário de água. Me parecia um estado mais resolvido", diz.

Segundo ela, esse é um ponto de atenção, porque mostra que só o o a redes não garante fornecimento constante.

"Precisamos das mais de 90 agências reguladoras que atuam no Brasil cobrando a frequência na distribuição dessa água. Não é apenas dizer 'a tubulação está aqui e agora está resolvido'", diz.

Pretto reconhece que o problema é de difícil solução, haja visto a diversidade regional, social e cultural do país. No entanto, ela diz que a resposta para o problema, venha do público, do privado ou da união dos dois, só ocorrerá com a priorização do tema.

"Temos 5.500 municípios no nosso país, cada um com uma realidade, e precisamos entender que o saneamento é um ativo político. Historicamente, os governantes entendiam que o saneamento era um ivo, aquela história de que obra enterrada não dá voto, que vai quebrar asfalto novo para colocar tubulação, vai atrapalhar o trânsito. Precisamos de uma mudança de mentalidade", diz ela.
 

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