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Como o papa escolhe seu nome pontifício e o seu significado

Uma análise do processo, da tradição e da simbologia por trás da escolha do nome adotado pelos líderes da Igreja Católica

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 08/05/2025 às 14:27

Atualizado em 09/05/2025 às 10:25

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O cardeal norte-americano Robert Prevost foi eleito o próximo líder da Igreja Católica nesta quinta-feira (8) / Reprodução/Vatican News

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A eleição de um novo papa é um evento de grande relevância global, acompanhado por milhões de fiéis e observadores internacionais. Um dos primeiros e mais simbólicos atos do pontífice recém-eleito é a escolha de seu nome papal. 

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Este artigo explora como o novo papa escolhe seu nome pontifício e qual o significado por trás dessa decisão, mergulhando na história e nas implicações dessa tradição secular da Igreja Católica, sediada no Vaticano. 

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Compreender este processo oferece uma visão sobre a continuidade, as prioridades e a mensagem que o novo líder espiritual deseja transmitir ao mundo.

Nesta quinta-feira (8), Robert Prevost foi eleito papa e escolheu o nome de “Leão XIV”.

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A tradição histórica da escolha do nome papal

A prática de um papa adotar um novo nome após sua eleição não é contemporânea ao início do papado. O primeiro papa a mudar de nome foi João II em 533 d.C. Seu nome de batismo era Mercúrio, e ele considerou inadequado que o líder da Igreja Católica tivesse o nome de um deus pagão romano. 

A partir do século X, a prática tornou-se mais comum, e desde o século XVI, com Marcelo II (que manteve seu nome de batismo, Marcello Cervini, por um breve pontificado em 1555), todos os papas têm adotado um novo nome pontifício.

A escolha de um nome papal carrega um peso histórico e simbólico significativo. Frequentemente, reflete uma homenagem a um predecessor, a um santo padroeiro, ou sinaliza a direção teológica e pastoral que o novo papa pretende seguir. 

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Nomes como Pedro, o primeiro apóstolo e considerado o primeiro papa, nunca foram escolhidos por reverência, com a única exceção de Lando, que reinou brevemente e cujo nome completo era Lando Pedro. 

No entanto, João Paulo I quebrou uma tradição ao ser o primeiro a usar um nome duplo, homenageando seus dois predecessores imediatos, João XXIII e Paulo VI, indicando uma intenção de continuidade com o Concílio Vaticano II.

O processo de escolha e os significados por trás dos nomes

Imediatamente após a aceitação formal da eleição no Conclave, o Cardeal Decano (ou o cardeal mais antigo em ordem e antiguidade) pergunta ao eleito: "Quo nomine vis vocari?" ("Com que nome queres ser chamado?"). A resposta é então anunciada aos cardeais e, posteriormente, ao mundo através da famosa proclamação "Habemus Papam" da varanda central da Basílica de São Pedro.

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A escolha do nome é um ato pessoal do novo papa, embora possa ser influenciada por diversos fatores:

  • Homenagem a predecessores: Muitos papas escolhem nomes de pontífices anteriores que iram ou cujos legados desejam continuar. Por exemplo, Bento XVI escolheu seu nome em referência a Bento XV, um papa que buscou a paz durante a Primeira Guerra Mundial, e a São Bento de Núrsia, padroeiro da Europa e fundador do monaquismo ocidental.
  • Devoção a santos: Nomes de santos proeminentes são frequentemente escolhidos, indicando uma inspiração espiritual particular. O Papa Francisco, por exemplo, escolheu seu nome em homenagem a São Francisco de Assis, conhecido por sua pobreza, humildade, amor pela natureza e dedicação aos pobres, sinalizando um pontificado focado nessas virtudes.
  • Declaração programática: O nome pode indicar as prioridades do novo pontificado. A escolha de "Francisco" foi amplamente interpretada como um desejo de reforma, simplicidade e foco nos marginalizados.
  • Continuidade ou ruptura: Um nome pode sinalizar a intenção de seguir de perto os os de um predecessor (como João Paulo II após João Paulo I) ou, mais raramente, de marcar uma nova direção.
  • Significado etimológico: Embora menos comum como fator primário, o significado original do nome (por exemplo, Pio significa "piedoso") pode complementar a mensagem que o papa deseja enviar.

A escolha é, portanto, uma das primeiras e mais importantes mensagens que o novo líder da Igreja Católica envia aos fiéis e ao cenário internacional.

Nomes papais e suas ressonâncias no mundo

A escolha de um nome papal frequentemente reverbera para além dos muros do Vaticano, tendo implicações na percepção pública e nas relações internacionais. Nomes como Leão (associado à força e à defesa da doutrina), Pio (ligado à piedade e, em alguns casos, a posturas mais conservadoras) ou Inocêncio carregam consigo séculos de história e conotações específicas.

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Quando Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome Francisco em 2013, foi uma decisão sem precedentes, pois nenhum papa havia adotado esse nome antes. A escolha foi imediatamente vista como um sinal de uma nova era para a Igreja Católica, enfatizando a pobreza, a paz e o cuidado com a criação. 

Essa decisão moldou as expectativas iniciais sobre seu papado e suas prioridades em questões como justiça social, diálogo inter-religioso e reforma da Cúria Romana. 

Da mesma forma, a escolha de Karol Wojtyla por João Paulo II, mantendo a homenagem de seu predecessor João Paulo I, sinalizou um compromisso com as reformas do Concílio Vaticano II e um pontificado que se mostraria altamente influente na geopolítica do final do século XX, especialmente em relação ao colapso do comunismo na Europa Oriental.

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A análise do nome escolhido por um novo papa oferece, assim, uma chave de leitura inicial para entender as direções e ênfases de seu futuro pontificado, refletindo tanto uma conexão com a tradição milenar da Igreja quanto uma resposta aos desafios contemporâneos.

A seleção de um nome pontifício é um ato carregado de simbolismo, história e intenção. Ao compreender como o novo papa escolhe seu nome e o significado inerente a essa escolha, observadores podem discernir as primeiras indicações sobre o tom, as prioridades e a visão do novo líder da Igreja Católica para a instituição e sua interação com o mundo. 

Esta tradição, longe de ser meramente protocolar, constitui uma declaração fundamental que ecoa através dos séculos e influencia a percepção global do papado.

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